Arquidiocese de Luanda
IIIª Parte
7. “Esta Boa Nova há-de ser proclamada,
antes de mais, pelo testemunho… Todos os cristãos são chamados a dar este
testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores ” (EN
21).
“Pergunto-me: onde encontravam os
primeiros discípulos a força para este seu testemunho? Como conseguiram, com os
seus limites e hostilizados pelas autoridades, encher Jerusalém com o seu
ensinamento? (cf. Act 5, 28) É claro que só a presença do Senhor ressuscitado
entre eles e a acção do Espírito Santo podem explicar este acontecimento. Só o
Senhor que estava com eles e o Espírito que os impelia à pregação explicam este
evento extraordinário. A sua fé baseava-se numa experiência tão forte e pessoal
de Cristo morto e ressuscitado, que não tinham medo de nada nem de ninguém, e
chegavam a ver as perseguições como um motivo de honra, que lhes permitia
seguir os passos de Jesus e assemelhar-se a Ele, testemunhando-o com a própria
vida.
Muitos sacerdotes e consagrados
esquecem que, em primeiro lugar, são consagrados e que a vivência da sua
consagração, em fidelidade, castidade, partilha de bens, deve ser o objectivo
primeiro da sua existência. Quem sabe se não é por esta razão que acontecem
abandonos do sacerdócio e da vida religiosa. Certamente que muitos destes
abandonos já se iniciaram muito antes, quando as pessoas em causa perderam o sentido
último da sua existência: consagração da sua vida a Deus, no serviço aos mais
pobres. Não posso viver o meu sacerdócio como se fosse um funcionário. Não
posso ter feito promessa de celibato ou de castidade e viver em mancebia. Não
posso fazer voto de pobreza e não entregar o meu salário à comunidade. Não
posso ser consagrado e não ter zelo missionário, espírito de sacrifício, de
concórdia, de paz e de entrega aos irmãos.
12. Depois destas considerações,
sugerimos algumas linhas de acção para uma revisão de vida pessoal e
comunitária, algumas orientações referentes à formação inicial e permanente e
sugestões para a vida pastoral.
3. Chamados a testemunhar Cristo

Já o Papa Paulo VI afirmava que o
nosso mundo necessita mais de testemunhas que de mestres. A Palavra aquece o
coração, mas o exemplo arrasta. Por isso, o primeiro modo de evangelizarmos é o
testemunho da própria vida.
Tagore, um poeta indiano, dizia:
“ide até ao rio, pegai numa das pedras roladas do rio, mergulhada na água há
muitos anos, e parti-a. Vereis que por dentro está seca. Assim são os cristãos.
Falam muito de Deus, mas não deixam que Deus entre dentro das suas vidas”.
Esperamos que estas palavras não se apliquem a nós. Temos de deixar-nos
transformar por Cristo, pela sua graça e testemunhar essa vida nova que vivemos
em Cristo, com o testemunho da nossa vida.
Talvez seja oportuno lembrar que a
conversão a Cristo não é algo que se deve presumir como já realizada pelo
simples facto de se ter sido baptizado. A conversão a Cristo é um caminho permanente
na nossa existência.
8. Para evangelizar é necessário
antes ter sido evangelizado, ter reconhecido Jesus como único Salvador e
proclamar a seu senhorio. O grito de Paulo: “ai de mim se não evangelizar”
pode-se aplicar noutro sentido: “Ai de quem procura evangelizar sem antes ter
sido evangelizado pela Boa Nova de Jesus”.
(José Prado Flores, fundador das Escolas Santo André).
“A evangelização não deve ser
assumida como um compromisso “ad extra”; nós mesmos, pelo contrário, somos os
primeiros a ter necessidade de uma re‑evangelização. É
somente através de uma renovação interior que teremos a capacidade de fazer
discernimento e conciliar as necessidades espirituais da nossa época com a
verdade sem tempo do Evangelho” (Bento XVI aos bispos dos EUA).
9. Cada baptizado é «cristoforo», ou
seja, portador de Cristo, como diziam os antigos Padres. Quem encontrou Cristo,
como a Samaritana no poço, não pode conservar esta experiência para si, mas
sente o desejo de a compartilhar, para levar outras pessoas a Jesus (cf. Jo 4).
Todos nós devemos perguntar se quem se encontra connosco sente na nossa vida o
entusiasmo da fé, se vê no nosso rosto a alegria de ter encontrado Cristo!
(Papa Francisco Discurso aos participantes na plenária do Pontifício Conselho
para a promoção da Nova Evangelização-
14 de Outubro de 2013)

Esta história da primeira comunidade
cristã revela-nos algo muito importante, que é válido para a Igreja de todos os
tempos, e também para nós: quando uma pessoa conhece verdadeiramente Jesus
Cristo e crê nele, experimenta a sua presença na vida e a força da sua
Ressurreição, e não consegue deixar de comunicar esta experiência. E se esta
pessoa encontra incompreensões ou adversidades, comporta-se como Jesus na sua
Paixão: responde com o amor e a força da verdade” (Papa Francisco, Angelus do
14 de Abril).
A situação da Igreja em Angola e São
Tomé e Príncipe
10. Somos chamados a testemunhar a
nossa fé em Cristo numa realidade concreta. Por isso, vamos tecer breves
considerações sobre a realidade social e eclesial que vivemos nos nossos
países. É uma realidade de luzes e de sombras, de angústias e esperanças.
Temos razões para dar graças ao
Senhor: há mais de 500 anos que o Evangelho chegou a estas terras, graças a
Deus e a missionários generosos sacrificados e heroicos. Quase todos os
angolanos e santomenses são baptizados e a grande maioria católicos. A prática
dominical é bastante elevada; as nossas liturgias são vivas e bem participadas
pelos nossos fiéis. Temos um número de sacerdotes que está a crescer;
actualmente os sacerdotes diocesanos em Angola e São Tomé são 614, mais 9
missionários “Fidei donum”. As vocações consagradas estão a aumentar. Os nossos
seminários estão cheios e as casas de formação religiosas têm um número
razoável de candidatos. Contamos com um número de 103 congregações religiosas
femininas e 29 masculinas a trabalhar em nossas dioceses na pastoral e no campo
da assistência social (educação e saúde). Nasceram na nossa Igreja em Angola
vários Institutos e Associações de Vida Consagrada e movimentos de apostolado
com um forte dinamismo evangelizador. Contamos igualmente com muitos leigos
totalmente dedicados ao serviço da Igreja e dos irmãos.
11. Mas temos igualmente de
reconhecer algumas sombras: Embora a grande maioria da nossa gente tenha
recebido o baptismo, o coração de muitos baptizados está ainda dividido entre o
cristianismo e alguns contra-valores da cultura tradicional africana. A mentalidade mágico-feiticista está ainda
presente entre muitos cristãos e mesmo entre pessoas consagradas.
A situação das nossas comunidades
cristãs e das mesmas pessoas é caracterizada por uma forte religiosidade, mas
onde se misturam crenças cristãs com tradições ancestrais que nem sempre se
coadunam com a fé em Cristo. Ao mesmo tempo que nos confrontamos com uma
cultura fortemente secularizada.
É neste ambiente que nascem e vivem
os nossos jovens. E é destes jovens que vêm as vocações consagradas. Muitos
acabam por não ser capazes de resistir aos convites do “mundo” e facilmente
transformam em ideal de vida, não o serviço ao Evangelho e ao irmão, mas a
auto-promoção. Os demónios do prazer, do ter e do poder sempre estão à espreita
para nos tentar.

Vivemos um tempo em que há
dificuldade em organizarmos a nossa vida de modo a termos tempo para os nossos
trabalhos, mas também para o Senhor; a termos tempo para a internet e a
televisão, mas também para o descanso e a meditação da Palavra de Deus; a
termos tempo para as nossas diversões, mas também para a Eucaristia, a
reconciliação e a escuta e acompanhamento dos irmãos.
4. Orientações práticas

A) Revisão
de vida pessoal e comunitária
- Como vivo a minha identidade
cristã? Que significado tem para mim ser baptizado? Agradeço o dom da fé e o do
baptismo?
- Como é que vivo a minha realidade
de pastor e de consagrado/a? Preocupo-me em fazer do meu ministério e vocação
um serviço a Deus, à Igreja e aos irmãos?
- Que tempo dedico ao anúncio da
Palavra de Deus? Preocupo-me em levar a todos o Evangelho, anunciando Cristo ao
mundo a tempo e fora do tempo?
- Como vivo os sacramentos na minha
vida, de um modo particular o sacramento da reconciliação? Celebro ou participo
todos os dias na Eucaristia e como o faço?
- Como vivo a minha vida em
comunidade? Sou fiel à oração diária, nomeadamente à oração litúrgica, à
leitura e meditação da Palavra de Deus, à contemplação e à adoração
eucarística?
- A minha comunidade é uma
comunidade evangelizadora, onde o anúncio de Cristo é preocupação fundamental
de todos?
- Procuro ser pobre, casto e
obediente como Cristo?
- Sou fiel às orientações da Igreja
e vivo a minha consagração com verdade, alegria e solidariedade com os irmãos?
- Cultivo a espiritualidade da
comunhão, da pastoral de conjunto, de amor à Igreja, integrando-me nos seus
dinamismos pastorais?
B) Formação inicial
13. Que haja um período de reflexão
e aprofundamento espiritual antes da entrada no estudo da teologia ou no
noviciado, que leve a pessoa à conversão pessoal a Cristo, conversão que se
demonstre com acções concretas, com uma vida nova que manifeste claramente os
valores evangélicos.
Que a formação espiritual-cristã acompanhe
sempre a formação humana-profissional (seminários, casas de formação, …).
Dê-se uma atenção particular à
formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada no que se refere ao celibato,
à pobreza, à obediência e à vida comunitária.
Ensine-se a fazer bom uso das novas
tecnologias de informação e comunicação, colocando-as ao serviço da missão de
evangelizadores, sem nos tornarmos escravos das mesmas.
C) Formação permanente
14. Organizem-se retiros (ao menos
uma vez na vida, fazer os exercícios de um mês de Santo Inácio, ou algo
equivalente), jornadas e cursos sobre a Nova Evangelização, experiências de
“deserto”, comunicação de experiências fortes, testemunhos de pessoas vivas e
defuntas, ler a vida dos nossos santos.
Que os sacerdotes e consagrados
assumam como primeiro ideal de vida a sua consagração e missão, com espírito de
serviço aos irmãos, sobretudo aos mais pobres e humildes e nas zonas mais
desfavorecidas.
Que se faça um acompanhamento
cuidado dos sacerdotes e consagrados durante os primeiros cinco anos de
ordenação ou profissão perpétua.
Que os sacerdotes estudem e tenham
sempre presentes as orientações que a Igreja oferece no Directório para a vida
e ministério do presbítero.
Fim.
Fonte: http://ceastangola.org/mensagens-pastorais/----1-ano-do-trienio-enraizados-em-cristo/----1-ano-do-trienio-enraizados-em-cristo_2_287_96_0.html
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