segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

1º ANO DO TRIENIO: ENRAIZADOS EM CRISTO - MENSAGEM PASTORAL

Arquidiocese de Luanda

IIIª Parte


3.        Chamados a testemunhar Cristo

7. “Esta Boa Nova há-de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho… Todos os cristãos são chamados a dar este testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores ” (EN 21).

Já o Papa Paulo VI afirmava que o nosso mundo necessita mais de testemunhas que de mestres. A Palavra aquece o coração, mas o exemplo arrasta. Por isso, o primeiro modo de evangelizarmos é o testemunho da própria vida.

Tagore, um poeta indiano, dizia: “ide até ao rio, pegai numa das pedras roladas do rio, mergulhada na água há muitos anos, e parti-a. Vereis que por dentro está seca. Assim são os cristãos. Falam muito de Deus, mas não deixam que Deus entre dentro das suas vidas”. Esperamos que estas palavras não se apliquem a nós. Temos de deixar-nos transformar por Cristo, pela sua graça e testemunhar essa vida nova que vivemos em Cristo, com o testemunho da nossa vida.

Talvez seja oportuno lembrar que a conversão a Cristo não é algo que se deve presumir como já realizada pelo simples facto de se ter sido baptizado. A conversão a Cristo é um caminho permanente na nossa existência.

8. Para evangelizar é necessário antes ter sido evangelizado, ter reconhecido Jesus como único Salvador e proclamar a seu senhorio. O grito de Paulo: “ai de mim se não evangelizar” pode-se aplicar noutro sentido: “Ai de quem procura evangelizar sem antes ter sido evangelizado pela Boa Nova de Jesus”.  (José Prado Flores, fundador das Escolas Santo André).

“A evangelização não deve ser assumida como um compromisso “ad extra”; nós mesmos, pelo contrário, somos os primeiros a ter necessidade de uma reevangelização. É somente através de uma renovação interior que teremos a capacidade de fazer discernimento e conciliar as necessidades espirituais da nossa época com a verdade sem tempo do Evangelho” (Bento XVI aos bispos dos EUA).

9. Cada baptizado é «cristoforo», ou seja, portador de Cristo, como diziam os antigos Padres. Quem encontrou Cristo, como a Samaritana no poço, não pode conservar esta experiência para si, mas sente o desejo de a compartilhar, para levar outras pessoas a Jesus (cf. Jo 4). Todos nós devemos perguntar se quem se encontra connosco sente na nossa vida o entusiasmo da fé, se vê no nosso rosto a alegria de ter encontrado Cristo! (Papa Francisco Discurso aos participantes na plenária do Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização-  14 de Outubro de 2013)
“Pergunto-me: onde encontravam os primeiros discípulos a força para este seu testemunho? Como conseguiram, com os seus limites e hostilizados pelas autoridades, encher Jerusalém com o seu ensinamento? (cf. Act 5, 28) É claro que só a presença do Senhor ressuscitado entre eles e a acção do Espírito Santo podem explicar este acontecimento. Só o Senhor que estava com eles e o Espírito que os impelia à pregação explicam este evento extraordinário. A sua fé baseava-se numa experiência tão forte e pessoal de Cristo morto e ressuscitado, que não tinham medo de nada nem de ninguém, e chegavam a ver as perseguições como um motivo de honra, que lhes permitia seguir os passos de Jesus e assemelhar-se a Ele, testemunhando-o com a própria vida.

Esta história da primeira comunidade cristã revela-nos algo muito importante, que é válido para a Igreja de todos os tempos, e também para nós: quando uma pessoa conhece verdadeiramente Jesus Cristo e crê nele, experimenta a sua presença na vida e a força da sua Ressurreição, e não consegue deixar de comunicar esta experiência. E se esta pessoa encontra incompreensões ou adversidades, comporta-se como Jesus na sua Paixão: responde com o amor e a força da verdade” (Papa Francisco, Angelus do 14 de Abril).

A situação da Igreja em Angola e São Tomé e Príncipe

10. Somos chamados a testemunhar a nossa fé em Cristo numa realidade concreta. Por isso, vamos tecer breves considerações sobre a realidade social e eclesial que vivemos nos nossos países. É uma realidade de luzes e de sombras, de angústias e esperanças.

Temos razões para dar graças ao Senhor: há mais de 500 anos que o Evangelho chegou a estas terras, graças a Deus e a missionários generosos sacrificados e heroicos. Quase todos os angolanos e santomenses são baptizados e a grande maioria católicos. A prática dominical é bastante elevada; as nossas liturgias são vivas e bem participadas pelos nossos fiéis. Temos um número de sacerdotes que está a crescer; actualmente os sacerdotes diocesanos em Angola e São Tomé são 614, mais 9 missionários “Fidei donum”. As vocações consagradas estão a aumentar. Os nossos seminários estão cheios e as casas de formação religiosas têm um número razoável de candidatos. Contamos com um número de 103 congregações religiosas femininas e 29 masculinas a trabalhar em nossas dioceses na pastoral e no campo da assistência social (educação e saúde). Nasceram na nossa Igreja em Angola vários Institutos e Associações de Vida Consagrada e movimentos de apostolado com um forte dinamismo evangelizador. Contamos igualmente com muitos leigos totalmente dedicados ao serviço da Igreja e dos irmãos.

11. Mas temos igualmente de reconhecer algumas sombras: Embora a grande maioria da nossa gente tenha recebido o baptismo, o coração de muitos baptizados está ainda dividido entre o cristianismo e alguns contra-valores da cultura tradicional africana.  A mentalidade mágico-feiticista está ainda presente entre muitos cristãos e mesmo entre pessoas consagradas.

A situação das nossas comunidades cristãs e das mesmas pessoas é caracterizada por uma forte religiosidade, mas onde se misturam crenças cristãs com tradições ancestrais que nem sempre se coadunam com a fé em Cristo. Ao mesmo tempo que nos confrontamos com uma cultura fortemente secularizada.

É neste ambiente que nascem e vivem os nossos jovens. E é destes jovens que vêm as vocações consagradas. Muitos acabam por não ser capazes de resistir aos convites do “mundo” e facilmente transformam em ideal de vida, não o serviço ao Evangelho e ao irmão, mas a auto-promoção. Os demónios do prazer, do ter e do poder sempre estão à espreita para nos tentar.

Muitos sacerdotes e consagrados esquecem que, em primeiro lugar, são consagrados e que a vivência da sua consagração, em fidelidade, castidade, partilha de bens, deve ser o objectivo primeiro da sua existência. Quem sabe se não é por esta razão que acontecem abandonos do sacerdócio e da vida religiosa. Certamente que muitos destes abandonos já se iniciaram muito antes, quando as pessoas em causa perderam o sentido último da sua existência: consagração da sua vida a Deus, no serviço aos mais pobres. Não posso viver o meu sacerdócio como se fosse um funcionário. Não posso ter feito promessa de celibato ou de castidade e viver em mancebia. Não posso fazer voto de pobreza e não entregar o meu salário à comunidade. Não posso ser consagrado e não ter zelo missionário, espírito de sacrifício, de concórdia, de paz e de entrega aos irmãos.

Vivemos um tempo em que há dificuldade em organizarmos a nossa vida de modo a termos tempo para os nossos trabalhos, mas também para o Senhor; a termos tempo para a internet e a televisão, mas também para o descanso e a meditação da Palavra de Deus; a termos tempo para as nossas diversões, mas também para a Eucaristia, a reconciliação e a escuta e acompanhamento dos irmãos.

4. Orientações práticas

12. Depois destas considerações, sugerimos algumas linhas de acção para uma revisão de vida pessoal e comunitária, algumas orientações referentes à formação inicial e permanente e sugestões para a vida pastoral.

A)     Revisão de vida pessoal e comunitária

- Como vivo a minha identidade cristã? Que significado tem para mim ser baptizado? Agradeço o dom da fé e o do baptismo?
- Como é que vivo a minha realidade de pastor e de consagrado/a? Preocupo-me em fazer do meu ministério e vocação um serviço a Deus, à Igreja e aos irmãos?
- Que tempo dedico ao anúncio da Palavra de Deus? Preocupo-me em levar a todos o Evangelho, anunciando Cristo ao mundo a tempo e fora do tempo?
- Como vivo os sacramentos na minha vida, de um modo particular o sacramento da reconciliação? Celebro ou participo todos os dias na Eucaristia e como o faço?
- Como vivo a minha vida em comunidade? Sou fiel à oração diária, nomeadamente à oração litúrgica, à leitura e meditação da Palavra de Deus, à contemplação e à adoração eucarística?
- A minha comunidade é uma comunidade evangelizadora, onde o anúncio de Cristo é preocupação fundamental de todos?
- Procuro ser pobre, casto e obediente como Cristo?
- Sou fiel às orientações da Igreja e vivo a minha consagração com verdade, alegria e solidariedade com os irmãos?
- Cultivo a espiritualidade da comunhão, da pastoral de conjunto, de amor à Igreja, integrando-me nos seus dinamismos pastorais?

B)     Formação inicial

13. Que haja um período de reflexão e aprofundamento espiritual antes da entrada no estudo da teologia ou no noviciado, que leve a pessoa à conversão pessoal a Cristo, conversão que se demonstre com acções concretas, com uma vida nova que manifeste claramente os valores evangélicos.

Que a formação espiritual-cristã acompanhe sempre a formação humana-profissional (seminários, casas de formação, …).
Dê-se uma atenção particular à formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada no que se refere ao celibato, à pobreza, à obediência e à vida comunitária.

Ensine-se a fazer bom uso das novas tecnologias de informação e comunicação, colocando-as ao serviço da missão de evangelizadores, sem nos tornarmos escravos das mesmas.

C)     Formação permanente

14. Organizem-se retiros (ao menos uma vez na vida, fazer os exercícios de um mês de Santo Inácio, ou algo equivalente), jornadas e cursos sobre a Nova Evangelização, experiências de “deserto”, comunicação de experiências fortes, testemunhos de pessoas vivas e defuntas, ler a vida dos nossos santos.

Que os sacerdotes e consagrados assumam como primeiro ideal de vida a sua consagração e missão, com espírito de serviço aos irmãos, sobretudo aos mais pobres e humildes e nas zonas mais desfavorecidas.

Que se faça um acompanhamento cuidado dos sacerdotes e consagrados durante os primeiros cinco anos de ordenação ou profissão perpétua.

Que os sacerdotes estudem e tenham sempre presentes as orientações que a Igreja oferece no Directório para a vida e ministério do presbítero.

Fim.

Fonte: http://ceastangola.org/mensagens-pastorais/----1-ano-do-trienio-enraizados-em-cristo/----1-ano-do-trienio-enraizados-em-cristo_2_287_96_0.html

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