sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

1º ANO DO TRIENIO: ENRAIZADOS EM CRISTO - MENSAGEM PASTORAL

Arquidiocese de Luanda


IIª Parte

1.        Chamados a viver em Cristo
2. A nossa missão de evangelizadores vem, em primeiro lugar, do nosso baptismo. Pelo baptismo tornamo-nos filhos de Deus, membros da Igreja, herdeiros da vida eterna. Como diz o Catecismo da Igreja Católica: “O santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã. Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão” (CIC 1213). E acrescenta uma citação de São Gregório Nazianzeno: «O Baptismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus [...] Chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo e tudo o que há de mais precioso. Dom,porque é conferido àqueles que não trazem nada: graça, porque é dado mesmo aos culpados: baptismo, porque o pecado é sepultado nas águas; unção, porque é sagrado e régio (como aqueles que são ungidos); iluminação, porque é luz irradiante;veste, porque cobre a nossa vergonha; banho, porque lava;selo, porque nos guarda e é sinal do senhorio de Deus» (CIC 1216).

Baptizados em Cristo: a nossa primeira vocação é sermos santos, é viver em Cristo. O objectivo da nossa existência como cristãos é um dia podermos dizer: já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. (Gal 2,20) Diz-nos São Paulo, na Carta aos Romanos: “Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Cristo na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos para a glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição.” (Rm 6, 4-5).

3. Devemos olhar para a primeira comunidade de Jerusalém e ver aí as consequências do baptismo, da fé em Cristo Jesus ressuscitado. Baptizados em Cristo, aqueles cristãos assumiram uma vida nova. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. (Act 2, 42-45) “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles. Entre eles não havia ninguém necessitado.” (Act 4, 32-34)

O cristão baptizado vive uma vida nova, transformada, não conformada com a mentalidade e a maneira de viver do mundo (cf Rm 12, 2), é assíduo à fracção do pão (Eucaristia) e às orações; vive a fraternidade no coração e nas obras.

2.        Chamados a anunciar Cristo

4. Na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano de 2013, o Santo Padre Francisco afirmava: “A fé é dom precioso de Deus, que abre a nossa mente para que O possamos conhecer e amar. Ele quer se relacionar conosco para nos fazer participantes da sua própria vida e tornar a nossa vida mais plena de significado, melhor e mais bela. Deus nos ama! E é um dom que não podemos manter somente para nós mesmos, mas deve ser compartilhado. Se quisermos mantê-lo para nós mesmos, tornar-nos-emos cristãos isolados, estéreis e doentes. O anúncio do Evangelho faz parte do ser discípulos de Cristo e é um compromisso constante que anima toda a vida da Igreja. A solidez da nossa fé, a nível pessoal e comunitário, mede‑se também pela nossa capacidade de comunicá-la a outros, de difundi-la, de vivê-la na caridade, de testemunhá-la a quem encontramos e partilha conosco o caminho da vida.”

A Igreja existe para evangelizar: "Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade actual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça (EN, nº 14). Seria bom voltar a ler e meditar, de novo, a exortação apostólica Evangelii Nuntiandi do Papa Paulo VI.

5. Como nos recordou também o Santo Padre, Papa Emérito Bento XVI, no discurso aos bispos de Angola e São Tomé por ocasião da visita “ad limina Apostolorum”, no dia 3 de Novembro de 2011: “Vós, amados Irmãos, em virtude da missão apostólica recebida, estais habilitados para introduzir o vosso povo no coração do mistério da fé, encontrando a Pessoa viva de Jesus Cristo. Enquanto Igreja … , o nosso primeiro e mais específico contributo para o povo africano é a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, uma vez que o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento. De facto, a dedicação ao serviço do desenvolvimento procede da transformação do coração, e a transformação do coração só pode vir da conversão ao Evangelho» (Mensagem final, 15). Este não oferece «uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que toma acessível o encontro com Cristo, através do qual floresce uma humanidade nova» (Exort. Verbum Domini, 93).

“O anúncio, de facto, não adquire toda a sua dimensão, senão quando ele for ouvido, acolhido, assimilado e quando ele tiver feito brotar naquele que assim o tenha recebido uma adesão do coração. Sim, adesão às verdades que o Senhor, por misericórdia, revelou. Mais ainda, adesão ao programa de vida, vida doravante transformada, que ele propõe; adesão, numa palavra, ao Reino, o que é dizer, ao "mundo novo", ao novo estado de coisas, à nova maneira de ser, de viver, de estar junto com os outros, que o Evangelho inaugura. Uma tal adesão, que não pode permanecer abstrata e desencarnada, manifesta-se concretamente por uma entrada visível numa comunidade de fiéis (EN 23).

A tarefa missionária é de todos os cristãos, mas ainda assim a presença e o ministério do presbítero são únicos, necessários e insubstituíveis (cfr. CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, O presbítero, pastor e guia da comunidade paroquial, nº 2).
Evangelizar é, pois, dever de todo o cristão, mas de um modo particular de nós, bispos, padres, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas.

E o que é evangelizar?

6. Evangelizar é uma palavra com um significado bastante amplo; a evangelização é uma realidade rica, complexa e dinâmica, (cf EN 17), mas no seu sentido primordial significa anunciar a Boa Nova da salvação que Deus Pai nos oferece em Jesus Cristo. “Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho Único, para que todo o que n’Ele acredita não morra mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Este é o kerigma que os Apóstolos pregaram.  “É pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, - Aquele que crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos – é pelo seu Nome, e por nenhum outro, que este homem está curado diante de vós. Jesus é a pedra que vós, construtores rejeitastes e que Se tornou a pedro angular. Não existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possam ser salvos” (Act 4, 10-12; cf Act 5, 30-32).  

Evangelizar, então, é anunciar e testemunhar o Nome de Jesus como único Salvador dos homens. Não é um discurso genérico sobre a religião, sobre Deus criador, legislador e juiz; é anunciar o dom de Deus, que é o seu próprio Filho, que por nós se encarnou, ensinou a verdade e o caminho do Reino de Deus, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia para abrir-nos o caminho da vida eterna (cf 1 Cor, 15, 3-5). Evangelizar é anunciar Cristo ao mundo.


Continua na próxima mensagem...



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